Juventude Urbana Contemporânea
A experiência desenvolvida pelo METUIA/UFSCar no município de São Carlos, no interior do estado de São Paulo, iniciou-se em 2005, direcionada aos jovens de grupos populares urbanos. Tal escolha não se fez de modo aleatório, pois se trata de uma temática complexa, para a qual há um pequeno acúmulo de experiências, sobretudo daquelas direcionadas para a produção de tecnologias sociais que se dediquem à criação de espaços de participação democrática e que ampliem a rede de sociabilidades e possibilidades daqueles jovens, na direção de, concretamente, envolvê-los numa atenção personalizada que tenha como parâmetro a possibilidade de construção de perspectivas de futuro, a partir da autonomia do sujeito envolvido (LOPES et al., 2012).
Para o desafio de criação de metodologias participativas de intervenção com a população juvenil em uma periferia local, elegemos a escola pública e a ação territorial (inicialmente tendo como local aglutinador um Centro Comunitário e depois um Centro da Juventude) como espaços de intervenção, com a estruturação de ações coletivas alicerçadas pela busca do pleno desenvolvimento social de jovens que ali residem. Boa parte dessas ações contou com o apoio do Programa Nacional de Extensão Universitária – PROEXT, da Secretaria de Ensino Superior (SESU/MEC), iniciando-se, em 2005, com o projeto Recriando Caminhos e Construindo Perspectivas: Enfretamento das Violências Urbanas entre Adolescentes e Jovens de Classes Populares, cujas ações foram ampliadas, em 2006, com o programa Juventude, Violência e Cidadania em Grupos Populares Urbanos: intervenção coletiva e desenvolvimento social e consolidadas com o programa Redes Sociais, Espaço Público e Cidadania: Políticas e Ações com a Juventude, em andamento. Ainda com o apoio da atividade Caravana do ECA: Promovendo Direitos e Articulando Ações, em 2013.
Esse programa em seus diversos subprojetos visa à implantação de uma experiência prática articulada à produção de conhecimento acerca da dimensão territorial, do fomento/implantação da convivência, da superação da abordagem técnico-profissional calcada na dimensão clínica/individual, respeitando, todavia, as singularidades dos sujeitos, tendo como pressupostos os princípios concernentes à busca do exercício radical da democracia e dos direitos e deveres decorrentes da cidadania (LOPES et al., 2012).
Para tanto, o desenvolvimento de recursos e tecnologias sociais em terapia ocupacional social para o alcance de tais objetivos tem sido uma importante vertente. Tanto na escola, no Centro da Juventude quanto nas articulações com os gestores políticos municipais vimos implementando: A) Oficinas de Atividades, Dinâmicas e Projetos: “utiliza as atividades como um recurso mediador do trabalho de aproximação, acompanhamento, apreensão das demandas e fortalecimento dos sujeitos, individuais e coletivos, para os quais direciona sua ação. Na nossa experiência, focalizamos o uso das atividades em espaços grupais e/ou coletivos” (LOPES et al., 2014, p. 594-95). B) Acompanhamentos Singulares e Territoriais: “estratégia de intervenção que possibilita uma percepção e interação mais real do cotidiano e contexto de vida dos indivíduos, interconectando suas histórias e percursos, sua situação atual e sua rede de relações” (p. 597). C) Articulação de Recursos no Campo Social: “compreende uma gama de ações realizadas desde o plano individual, passando pelos grupos, coletivos, até os níveis da política e da gestão; a estratégia está em manejar as práticas em diferentes níveis de atenção em torno de objetivos comuns e utilizar os recursos possíveis, compreendidos como dispositivos financeiros, materiais, relacionais, afetivos, sejam eles micro ou macrossociais, para compor as intervenções” (p.597-98). D) A Dinamização da Rede de Serviços: “visa mapear, divulgar e consolidar todos os programas, projetos e ações voltados para esse grupo populacional e/ou sua comunidade, com o intuito de fomentar a interação e a integração entre eles” (p. 598).
Tal programa, bem como outras experiências do METUIA/UFSCar em curso, possibilitam a prática extensionista da universidade pública, a formação de terapeutas ocupacionais e, também, a coleta de materiais para pesquisas – que vêm sendo realizadas em níveis de graduação e pós-graduação. Destaca-se que temos realizado diversas pesquisas cujas questões nascem desse campo de trabalho, temáticas contemporâneas que tangenciam a juventude pobre e interpelam traçados terapêutico-ocupacionais para esses cenários.
Referências
LOPES, R. E.; MALFITANO, A. P. S.; SILVA, C. R.; BORBA, P. L. O.; HAHN, M. S. Occupational Therapy Professional Education and Research in the Social Field. WFOT Bulletin, v. 66, p. 52-57, 2012.
LOPES, R. E, MALFITANO, A. P. S., SILVA, C. R, BORBA, P. L. O. Recursos e tecnologias em Terapia Ocupacional Social: ações com jovens pobres na cidade. Cadernos de Terapia Ocupacional da UFSCar, v. 22, p. 591-602, 2014.
(Texto adaptado de: LOPES, R. E.; MALFITANO, A. P. S. Traçados teórico-práticos e cenários contemporâneos: a experiência do METUIA/UFSCar em terapia ocupacional social. In: Roseli Esquerdo Lopes, Ana Paula Serrata Malfitano. (Org.). Terapia Ocupacional Social: desenhos teóricos e contornos práticos. São Carlos, SP: EDUFSCar, 2016. p. 297-306).