Terapia Ocupacional Social

 A terapia ocupacional social no Brasil se desenvolveu tomando duas perspectivas teóricas complementares; a primeira tinha como parâmetro a análise dos processos sociais, sobretudo, no final dos anos 1970 até meados da década de 1980, uma época de ebulição em torno das demandas da questão social no Brasil; esta, não apenas entendida como decorrente das relações entre capital-trabalho, mas, que também se referia à construção da esfera pública mobilizada pela sociedade civil, em um momento de “abertura política”, embora ainda permeado pela restrição dessa própria esfera. O Estado, por sua vez, em transformação exatamente pela luta decorrente dos movimentos sociais, se articulava numa perspectiva democrática e de direito, nos limites do capitalismo.

Esse processo que envolveu a revisão dos postulados profissionais atingiu distintos segmentos, inclusive os terapeutas ocupacionais; se colocava fortemente em debate as responsabilidades dos técnicos na formação de valores sociais, de como exercer um papel político a partir da sua prática, de modo consciente, decidindo entre o consenso e o dissenso, participando, técnica e politicamente, da luta pela hegemonia (GRAMSCI, 1988; LOPES, 1993/1996). Tal revisão da ação profissional fomentou questionamentos, proposições e uma perspectiva teórica que alicerçou a terapia ocupacional social (BARROS; GHIRARDI; LOPES, 2002).

A segunda perspectiva nasce de outro questionamento, aquele que se referia ao saber médico-psicológico quanto a suas formas reducionistas de compreender e de lidar com fenômenos que eram colocados sob o binômio “saúde-doença”, com base na disciplinarização e institucionalização de problemas sociais, ou seja, a serem tratados do ponto de vista de determinados valores dominantes, que visavam ao controle e à supressão da liberdade de sujeitos, individuais e coletivos (BARROS; GHIRARDI; LOPES, 1999). Discutia-se o quanto as disciplinas médicas/psicológicas/clínicas estavam impregnadas desses valores, com forte influência da psiquiatria, mas também de outras abordagens da própria psicologia, que articulam uma série de proposições que vão moldar a ação dos técnicos.

Decorre, então, a necessidade de se lançar mão de conceitos que se reportem ao entendimento das dinâmicas das negociações sociais, a incorporação de conhecimentos sócio-antropológicos aos conhecimentos específicos e o investimento em ações de caráter individual e coletivo e ações transdisciplinares, interprofissionais, intersetoriais, enfim, a construção daquilo que se denominou como ação no campo social e como terapia ocupacional social (BARROS; GALHEIGO; LOPES, 2007).

Configura-se, assim, a oportunidade de um diálogo em torno da criação, da proposição e da análise acerca do que fazer nesse campo; isso passa a ser realizado com ênfase no Brasil a partir do final da década de 1990, especificamente 1998, com a criação do Projeto METUIA por docentes da área de terapia ocupacional no estado de São Paulo; desde então, as reflexões, os debates, as proposições, bem como os chamamentos sociais têm sido intensos.

Os estudos aqui apresentados, no campo da juventude contemporânea, têm como fundamentação teórica a Terapia Ocupacional Social.

Referências

BARROS, D. D.; GHIRARDI, M. I. G., LOPES, R. E. Terapia ocupacional social. Rev. Ter. Ocup. Univ. São Paulo, v. 13, n.3, p. 95-103, 2002.
BARROS, D. D.; GHIRARDI, M. I. G., LOPES, R. E. Terapia ocupacional e sociedade. Rev. Ter. Ocup. Univ. São Paulo, v. 10, n.2/3, p. 71-76, 1999.
GRAMSCI, A. Os intelectuais e a organização da cultura. 6 ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1988.
LOPES, R. E. A direção que construímos: algumas reflexões sobre a formação do terapeuta ocupacional. Rev. Ter. Ocup. Univ. São Paulo, v.4/7, p.27-35, 1993/1996.